A fotografia enquanto imagem estática e captação de um momento usa da negociação através do diálogo e da troca de informações sobre um“ sistema de relações entre as partes envolvidas na atividade de comunicação” refere Alan Sekula, definindo o discurso fotográfico apresentado.
A imagem fotográfica produzida retrata uma realidade negociada entre observador e observado negociando memória individual enquanto parte de uma ideia de paisagem construída pelo observador.
Pretende-se criar uma representação que assenta sobre uma ideia de paisagem enquanto construção cultural e pelo diálogo factual sobre o lugar, um processo de autoconhecimento e entendimento sobre um lugar comum à região do Vale do Ave.
Representa-se a vulnerabilidade de um ambiente controlado, intacto urbanisticamente nas últimas décadas, que sofre do envelhecimento das populações abrigadas sobre um contexto atualmente em decaimento.
As imagens são captadas ao nível do olhar do observador, denunciando a sua posição física e, indiretamente, a sua posição relacional com o lugar enquanto parte da sua biografia assim como a inscrição do Eu na paisagem numa relação cognitiva simultânea. Procura-se várias vezes indícios de presença de um indivíduo sob a forma de marcas, em que todos os signos compõe a fotografia e informam o caráter e a fenomenologia do lugar.
O projeto que partiu de uma curiosidade pela origem do lugar onde vivi a infância transformou-se num trabalho de confronto e negociação com os intervenientes e com o lugar.
O texto deste projeto pode ler-se da forma como se escreve acima, mas deve ser incluída a componente pessoal, do autor que fotógrafa, que se identifica através da posição a partir da qual a fotografia se faz. O processo fotográfico parte de um caráter negocial com os habitantes e remete ao meu quotidiano enquanto criança na região, como única criança de origem africana na região, colocando o observado em foco, invertendo os papéis do racismo quotidiano que passei na infância e que ainda são presentes no dia-a-dia deste lugar.
Procura-se um entendimento do meu lugar nesta aldeia, que não me reconhece como pertencente. Procuro apaziguar este sentimento de estar fora do lugar num lugar que é periférico, mas que, quase vinte anos depois de lá ter saída me mantém como fora do lugar.
O titulo Out of Place é uma homenagem a Edward Said e ao seu livro homónimo, enquanto vai experienciando diferentes sitios onde viver sem sentir pertencer a nenhum.